FOI ASSIM...
EZEQUIEL DO NASCIMENTO FILHO
AUTOBIOGRAFIA
“O estilo é o próprio homem”
(Buffon)
BADY BASSITT – SP
E.E. PROFª AUREA DE OLIVEIRA
CAPÍTULO I
QUEM SOU EU?
Nasci em berço de bambu e colchão de paina, fruto da paineira uma árvore comum da época que a mais de cem anos frutificava nos fundos da casa em que meus pais vivem até hoje, mas quando falo em educação meu berço nem de ouro é e sim de diamante. Nasci em terras que ficam nos domínios do município de uma pequena cidade interiorana que depois de alguns nomes, definitivamente passou-se a chamar Guapiaçú.
Foi no ano em que o Homem realizou um dos seus maiores feitos que vim ao mundo, o ano em que pisou na Lua e de lá contemplou este lindo planeta azul chamado Terra. Aos vinte e nove dias do mês de janeiro sobre o signo de aquário e as bênçãos de Deus e todos os anjos, respirei pela primeira vez o ar que até hoje me faz viver.
Em uma família de mais três irmãos, eu sou o mais novo e segundo eles o preferido de minha mãe, mas tudo sem ciúmes e servindo de brincadeira. Realmente sou, mas não o preferido, porém o mais mimado. Não aproveito disso, o que me importa é respeitar, cuidar e obedecer a profunda sabedoria de meus pais.
Minha vida se seguiu. Feliz e com atitudes de qualquer criança normal. Brincando, brincando muito.
Ah! Como era bom brincar.
(Eu, minha esposa Claunice e meu filho Luis Miguel)
CAPÍTULO II
AVENTURA ESCOLAR - O INÍCIO
(Ruínas da E.E. Isolada Fazenda Iracema – 1ª, 2ª e 3ª séries)
Sempre fui muito rezador de terços e novenas. Praticava muito a religião que era de toda a minha família. Como não sabia ler nem escrever pedia a minha irmã que lesse para mim todas as falas e cânticos das orações e decorava tudo para poder ser parte ativa dos encontros religiosos. Até que chegou o momento de deixar minha irmã sem essa responsabilidade. Brevemente poderia eu mesmo, fazer minhas leituras e assim orar e entoar cânticos com meus próprios esforços.
Feliz e ansioso, com uma bolsa que minha mãe havia feito de retalhos de tecido, um caderno, uma cartilha, lápis e borracha, caminhei em direção ao sonho que estava prestes a ser realizado.
Não tive pré, jardim I, II, III, ou seja lá quantos forem. Comecei na primeira série aos sete anos completos.
Minha escola era numa fazenda não muito longe da minha casa e se chamava Escola Estadual Isolada Fazenda Iracema. Tinha uma sala de aula, uma cozinha em que eram feitas as refeições que até hoje lembro o quanto eram saborosas, um pequeno pátio e um banheiro de fossa, comum naquela época em sítios.
Na sala de aula duas fileiras de primeira série, duas de segunda e uma de terceira série, uma lousa na parede e uma professora que além de dar aula fazia a merenda que volto a dizer, de tanto sabor me dá água na boca só de pensar.
Minha professora da primeira série se chamava Elizabete. Carinhosa e muito competente, mas caso fosse necessário aplicava castigos, me lembro até de algumas surras, que segundo quem os levava, não doíam tanto assim, mas sempre surtiam efeito. Lembro-me que antes de aprender a ler e escrever havia os intermináveis serra-serras, traços na vertical e horizontal, bolinhas e muito mais que fiz para melhorar a coordenação motora. Não me importava fazia tudo que fosse necessário para garantir um bom aprendizado, uma boa leitura e escrita. A cartilha “Caminho Suave”, minha força de vontade, motivação e estudo resultaram em um aprendizado rápido e sólido.
Minhas lembranças são também de que meu primeiro dia de aula foi o primeiro dia de trabalho na roça com meu pai e meus irmãos, mas esta é outra história.
No recreio da escola, muitas brincadeiras como pique-esconde, pega-pega, balança caixão, passa anel e muita conversa de criança.
Ansioso pelo próximo dia de aula e cansado pelo trabalho, jantava fazia a tarefa e ia dormir. Assim foi a segunda séria com a professora Vera Falco, a terceira com a professora Vera Arid. A quarta série foi em outra escola chamada Escola Estadual Isolada Bela Vista que era mais longe da minha casa e eu estudava no período da tarde. Era minha única opção e caminhava, sem reclamar, debaixo do sol cinco quilômetros e estudava feliz sabendo da necessidade da educação na vida de uma pessoa. Minha professora, Vera Lúcia Longo, mais uma de tantas veras na minha vida escolar, dizia: “O importante não é o conteúdo ensinado, mas a diferença que ele faz na sua vida”.
Ah! Boas lembranças e bons tempos da minha vida que não voltam mais.
(Ruínas II)
CAPÍTULO III
VIAJANDO PARA O PRIMEIRO GRAU
Depois de quatro anos estudando em escolas de sítio, não havia mais possibilidades de isso acontecer, era o momento de alçar vôo e estudar na cidade. Tímido como sempre fui ficava nervoso só de pensar em ir para um lugar estranho e não me acostumar. Mas o desejo de adquirir conhecimento era muito maior que todo o medo. Iria estudar agora na Escola Estadual Professor Carlos Castilho. Acordava de madrugada e ia para a estrada esperar o transporte que passava no meu ponto por volta de cinco horas da manhã. Chegava à escola quase encima da hora e me encaminhava para a minha sala de aula esperando o professor chegar, sentado em meu lugar e em silêncio. Ficava o período na escola, saía me encaminhava para o transporte e chegava a minha casa por volta das quatorze horas, almoçava depois vinha o trabalho, à noite fazia a tarefa de casa e cama, para acordar cedo no outro dia novamente.
Não tinha muitos colegas na escola porque eu era muito tímido e ficava no meu canto. Isso não me fazia muita falta, pois tinha os colegas ao redor da minha casa que eram suficientes para brincadeiras e conversas.
Admirava meus professores, quase sem exceção. Gostava muito do professor de matemática, tanto que foi nesta área minha graduação. Eles eram para mim toda a sabedoria que o mundo podia me dar e deles sugava tudo que eu queria saber e aprender. Além do respeito que tínhamos por eles que eram recebidos de pé e em posição de respeito. Tudo valia a pena pela consciência de saber que era o meu futuro que estava em jogo. Poderia citar o nome de todos e suas respectivas matéria em diferentes séries, pois jamais os esqueci, mas vale mesmo é aminha lembrança de foram eles alguns dos responsáveis pelo que sou hoje.
A minha dedicação aos estudos e o desejo de não trabalhar mais na roça me fizeram um excelente aluno e mais uma vez tive sucesso escolar. Meu primeiro grau foi intenso e tranqüilo e minha vida seguiu aguardando o momento de atingir objetivos maiores.
Ah! Uma etapa longa e difícil, tantas mudanças na adolescência.
(Carteirinha de estudante da 5ª série)
CAPÍTULO IV
ERA O MOMENTO DE MUDANÇAS – O SEGUNDO GRAU
Estudei a primeira série do ensino médio na mesma escola que fiz o fundamental, porém agora era chegada a hora de estudar a noite. No período da manhã só havia o fundamental e a tarde não tinha como estudar, pois não tinha transporte nesse período. Parava de trabalhar por volta das dezesseis horas, tomava um banho e ia para o ponto aguardar o transporte. Na escola estudava normalmente, tempos em que o ensino noturno não se diferenciava do diurno, em qualidade. Chegava , todo dia, por volta de meia noite e meia e, claro, ia dormir.
Com toda essa dificuldade, mas gostando de estudar, eu queria mudanças. Minha intenção era fazer um colegial técnico para ter logo que terminasse o colégio, mais facilidade para conseguir emprego e sair do sítio, que era minha intenção. Mas não tinha transporte que me levasse à cidade em que se localizava o curso que desejava. O ano letivo terminou e eu sentei com meus pais e conversamos. Colocamos tudo na ponta do lápis e decidimos que eu iria estudar na cidade grande, vizinha da cidade que sempre estudei, mas grandiosa perto do que conhecia e frequentava. No ano seguinte pedi minha transferência para o colégio técnico Philadelpho Gouveia Neto em São José do Rio Preto. Fiz o curso de computação, que na época era moda por ser o início da expansão tecnológica no país. Perdi algumas matérias do currículo normal para serem inseridas as matérias do curso, mas estudava paralelamente o que faltava.
Fazia educação física duas vezes por semana. Ia logo de manhã a pé até o colégio – quarenta e cinco minutos de caminhada até chegar lá – fazia educação física, voltava a pé para casa, tomava banho, comia rapidamente descia a pé até o centro da cidade pegava o ônibus e seguia em direção a escola – tomava o ônibus para não chegar muito suado na escola – cumpria meu período escolar e voltava para casa novamente a pé.
Morava em um cômodo que era quarto, sala e cozinha. Lavava, cozinhava, passava e limpava. Como o dinheiro calculado por mim e meu pai, e que era sua possibilidade de ajuda, não dava para tudo, então, procurei logo um emprego e logo consegui. Fazia semi-jóia para uma fábrica, mas em casa, o que facilitava meu controle entre estudos, trabalho, tarefas e descanso.
Aos sábados vendo a necessidade de conhecer bem outra língua fiz um curso de inglês durante três anos o que me ajuda até hoje. Levei assim meu colegial por longos dois anos, mas terminei com boas notas e sabendo realmente o que havia aprendido.
Foram dois anos de muita luta, mas também de muita diversão com os colegas do colégio e até com os professores que eram jovens por dentro e muitos deles por fora. Professores que tinham compromisso com a educação, pois os alunos tinham compromisso com o aprendizado e todos tinham o mesmo objetivo que era conseguir, cada um em sua instância a sua realização.
Ah! Bons tempos em que ensinar e aprender tinha o mesmo sentido.
(Escola Técnica de Segundo Grau Philadelpho Gouveia Neto – hoje uma ETEC)
CAPÍTULO V
MINHA PRIMEIRA GRADUAÇÃO
Terminado o ensino médio vinha a definição do que fazer na faculdade. Eu queria ter um curso superior e ser o primeiro da minha família que iria se formar numa faculdade.
Como ainda havia aquela febre da informática e eu já tinha feito um curso técnico de computação resolvi fazer um curso novo que tinha aparecido numa universidade particular que era Técnico em Processamento de Dados. Eu já trabalhava e podia arcar com as despesas. Fiz o curso com firmeza apesar de ter aproveitado bem esta época para sair, conhecer pessoas e aproveitar um pouco a vida de jovem. Terminei o curso, mas não fiquei satisfeito com o que havia cursado. Apesar de me achar maduro, desconfiava estar errado na escolha que havia feito. Descobri mais tarde ser a pura verdade, pois não me dava bem com os computadores. Estava desestimulado com todos aqueles comandos e processos que nem sempre resultavam naquilo que eu desejava e que era necessário para resolver o problema que me fora colocado para solucionar. Daí, continuei no meu emprego e fui pensando naqueles seis meses, que restavam para começar um novo ano, que faculdade deveria cursar que realmente gostasse e pudesse seguir carreira. Foram meses de muita conversa, pesquisa e decisões, até que resolvi o que faria.
Ah! Como é difícil ser adulto.
CAPÍTULO VI
MINHA SEGUNDA GRADUAÇÃO
(UNESP Campus de São José do Rio Preto – IBILCE – Instituto de Biociências Letras e Ciências Exatas)
Em 1989, depois de prestar o vestibular para o curso de Ciências Contábeis na UNAERP em Ribeirão Preto pela FUVEST, consegui vencer a primeira etapa, mas fiquei na segunda fase e não consegui realizar minha primeira meta. Então, como já havia feito a inscrição para o vestibular da VUNESP no curso de Licenciatura em Matemática, não me dei por vencido, fiz o vestibular, passei e bem colocado. No Campus de São José do Rio Preto iniciei em 1990, minha caminhada ao magistério.
Foram anos de muito estudo e muita dedicação, pois como falavam os alunos veteranos daquela época “o difícil não é entrar, o difícil é sair”. Realmente, veio a primeira prova e fui até bem, veio a segunda prova e tirei zero, a terceira zero, a quarta quase nada e percebi que era hora de regaçar as mangas e estudar ou como dizem por aí “engolir os livros”. Foi isso que eu fiz, saí do emprego e me dediquei aos estudos como nunca havia feito. De segunda a sexta-feira dividia o tempo entre aulas e biblioteca. Resolvi cadernos e mais cadernos de exercícios, aos sábados estudava a matéria da semana novamente e no domingo no período da manhã resolvia exercícios. Voltei a trabalhar, assim que coloquei as coisas em ordem e quando menos esperava aconteceu um imprevisto, minha mãe precisou fazer uma cirurgia e teria que ficar sessenta dias sem poder andar.
Como meus pais morando no sítio e sem condições de pagar alguém para cuidar de minha mãe resolvi sair do emprego fazer esse papel de cuidador. Fazia todos os serviços de casa e estudava, como era difícil ir para a faculdade de onde meus pais moravam, acabei relaxando e ficando em dependência na maioria das matérias naquele semestre.
No ano seguinte, já com minha mãe recuperada, voltei a estudar com a dedicação que me era peculiar e fiz no último ano onze matérias e dois estágios. Quatro, dessas matérias fiz em horário especial, pois chocava com as outras, mas consegui vencer todas as barreiras ou pelo menos quase todas. No final do ano de 1993 fiquei em dependência em uma matéria semestral e por causa disso tive que fazer mais meio ano. Voltei a trabalhar e fiz a matéria que havia carregado. Em junho de 1994 terminei minha graduação e muito feliz por entre tantos alunos que haviam entrado na faculdade no mesmo ano que eu, ter sido um dos únicos que terminou o curso.
( Colação de grau da faculdade )
Participei da colação de grau fiz meu juramento. Um ano e meio depois comecei a dar aulas, e acredito tenho o cumprido o juramento que fiz na integra daquele di em diante.
Ah! Como é bom dizer, estou formado e com parte dos meus sonhos, realizado.
(Eu, meu pai e minha mãe no baile de formatura)